O presidente Michel Temer prepara
uma reforma do seu ministério para março do próximo ano, aproveitando a
necessidade que ministros que serão candidatos terão de deixar os cargos, para
recompor a coalizão de apoio ao governo, disse à Reuters uma fonte palaciana.
As mudanças vão beneficiar partidos
que planejem formar com o governo uma coalizão para enfrentar as eleições
presidenciais de 2018, o que levará à redução do tamanho do PSDB no governo,
hoje um dos principais partidos da base.
"O PSDB certamente não estará
com o governo nas eleições de 2018", disse a fonte, lembrando que os
tucanos planejam ter candidato próprio.
A cobrança por uma reforma começou
logo depois da votação para arquivar a primeira denúncia contra o presidente,
em agosto deste ano, e voltou com força depois do arquivamento da segunda
denúncia. O presidente, no entanto, avalia que este não é o momento.
Uma mudança agora desagradaria um
lado da base, mesmo beneficiando outros, e não resolveria o problema do
governo, que teria de fazer nova mudança em abril, data limite para
desincompatibilização de ministros que pretendem ser candidatos em 2018.
"A composição do governo tem
um peso muito grande na eleição e é muito cedo para tratar disso. Uma mudança
agora anteciparia o debate eleitoral sem necessidade", disse a fonte.
Um parlamentar com bom trânsito no
Planalto já havia dito à Reuters que não haveria reforma ministerial agora.
"Quem chegar não vai nem ter tempo de achar as gavetas", disse.
Ainda assim, não faltam partidos de
olho no espaço ocupado pelo PSDB no governo. Com quatro ministérios
--Secretaria de Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos--, os
tucanos têm o maior quinhão da Esplanada depois do PMDB, partido do presidente.
O partido votou dividido na
primeira denúncia, com um voto a mais pelo arquivamento. Na segunda, o placar
se inverteu: 23 tucanos votaram pelo prosseguimento e 21, contra. O Planalto
reconhece que fica difícil justificar para outros partidos, mais fiéis, o
tamanho dos tucanos no governo, e a cobrança tende a aumentar.
“Não vou negar que um partido que
tem representação e tem uma postura de infidelidade, de falta de compromisso,
cria um constrangimento e é muito ruim para a base aliada”, disse o presidente
do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ressalvando que seu partido não pede mais
ministérios por estar "muito bem contemplado" no primeiro escalão.
Os cargos tucanos mais cobiçados
são os do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e do ministro
das Cidades, Bruno Araújo. O primeiro, por ter a responsabilidade de negociar
cargos e projetos com a base do governo. O segundo, porque estão nas Cidades
programas como o Minha Casa, Minha Vida que, apesar de estarem em marcha lenta,
ainda rendem bons dividendos políticos.
Direitos Humanos, nas mãos de
Luislinda Valois, atrai pouco interesse, mas pode ser usado em uma negociação.
Já o Itamaraty dificilmente seria colocado nas mãos de um político sem
afinidade com o cargo e nem atrai interesse por não ter programas nem verbas.
Aloysio Nunes, se decidir não se candidatar novamente a senador, como já teria
considerado, pode ficar até o final do governo pela sua ótima relação com o
presidente e com os diplomatas.
ELEIÇÕES 2018
Partido do governo, o PMDB planeja
usar a recomposição ministerial nas negociações para formar uma coalizão forte
para 2018. Até agora, o partido --que deixou o governo Dilma, em 2015, com o
discurso que teria candidato próprio-- não tem quem apresentar.
"O PMDB não tem candidato
porque, nesse momento, não tem alguém com um perfil possível", disse a
fonte palaciana.
Citados em diversas operações
contra corrupção, nenhum dos nomes conhecidos do partido estariam em condições
de ser candidato ao Palácio do Planalto.
Sem um candidato natural, o PMDB
olha para os lados para tentar descobrir um nome a que possa se associar. O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admite a fonte, é uma possibilidade,
especialmente se a economia consolidar o crescimento.
"Não seria ruim para o governo
ter pelo menos dois candidatos a quem se associar", disse a fonte.
"Mas o cenário ainda é muito incerto. Só lá por março ou abril do ano que
vem vai ser possível saber quem de fato vai vingar."
Com o cenário mais claro, a reforma
ministerial irá refletir o caminho do PMDB para 2018.
fonte: Reuters
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